ASCO 2024

Marcus Magnus Sampaio

O Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica ocorre anualmente no início de junho em Chicago – EUA. O tema deste ano, “A Arte e a Ciência no Cuidado em Oncologia”, foi apresentado na sessão de abertura pela presidente da ASCO, Dra. Lynn M. Schuchter, médica oncologista da Universidade da Pennsylvania. Na ocasião, Dra. Lynn ministrou uma palestra inspiradora sobre a importância da ciência do avanço da técnica, mas também de um cuidado atencioso e com empatia, direcionado aos pacientes, familiares e equipes de cuidado envolvidas. Este cuidado colabora não apenas com a qualidade de vida do paciente, mas também proporciona melhor desfecho de tempo de sobrevida.

Na sessão plenária realizada no dia 02 de junho, foram discutidos os estudos mais importantes e impactantes do congresso. Os temas, pela ordem de apresentação, foram os seguintes:

  1. Tratamento de tumor de esôfago do tipo adenocarcinoma com quimioterapia empregando uma combinação de quimioterápicos conhecidos pelo acrônimo FLOT em comparação com quimioterapia e radioterapia combinadas, todos seguidos pelo tratamento cirúrgico. Este estudo mostrou uma vantagem para o programa FLOT, embora tenha suscitado alguma discussão. Ainda assim, a diferença foi bem significativa em favor do tratamento sem a radioterapia.
  • Tratamento de pacientes com melanoma localmente avançado estádio III empregando imunoterapia com 2 drogas (ipilimumabe e nivolumabe) antes da cirurgia em comparação com imunoterapia com nivolumabe apenas ou uso de inibidor de BRAF (um gene frequentemente alterado em melanoma) após a cirurgia. Este estudo mostrou uma vantagem significativa para o tratamento com as duas drogas e trouxe a possibilidade de um tratamento mais curto, uma vez que proporcionou o desaparecimento ou redução significativa do tumor apenas com a imunoterapia dupla com uso de poucas doses. Esta é uma melhora significativa de resultados com uma abordagem muito eficiente e rápida.
  • O emprego de abordagem com telemedicina no cuidado paliativo para pacientes com câncer de pulmão avançado em comparação ao acompanhamento em consultas presenciais. Este estudo mostrou que o resultado atingido foi o mesmo, o que sugere um benefício para os pacientes que têm dificuldade para ir ao atendimento presencial. Hoje sabemos que os cuidados paliativos durante todo o tempo de doença conseguem prolongar o tempo de vida e, principalmente, melhorar a qualidade de vida. Empregar a tecnologia em favor deste cuidado é uma forma eficiente de beneficiar um maior número de pessoas.
  • Tratamento de pacientes com adenocarcinoma de pulmão com mutação no gene EGFR em estádio III e não operáveis tratados com quimio e radioterapia. Estes pacientes têm alto risco de retorno da doença, e o tratamento com uma droga chamada osimertinibe, diariamente por via oral, reduziu em muito o risco de retorno da doença. O ganho foi tão grande que chegou a ser ovacionado pelos médicos que acompanhavam a apresentação e foi muito bem recebido pela avaliação crítica que se seguiu. Conta, entretanto, como ponto negativo, a necessidade de manter o tratamento por tempo indeterminado, uma vez que o risco de retorno da doença pode persistir por muitos anos. Outra preocupação é o custo do tratamento, ainda mais por tempo indeterminado.
  • Tratamento de pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, um tipo menos comum, mas muito agressivo, de doença altamente associada ao tabagismo e com alto risco de recorrência, mesmo em estágios iniciais. Este estudo empregou imunoterapia com durvalumabe (um anticorpo que ativa o sistema imune contra o tumor) após o tratamento inicial convencional de quimio e radioterapia. O resultado foi um aumento importante do tempo de vida e aumento do tempo até a recorrência da doença. Potencialmente é um caminho para aumentar a chance de cura destes pacientes. É um tratamento longo, a cada 4 semanas, com injeções por 2 anos, mas que trouxe uma melhora em um tumor onde não se via avanços significativos faz muito tempo.

Em resumo, foram 5 estudos mostrando resultados consistentes advindos dos muitos anos de pesquisas em tecnologia e nos estudos da biologia dos tumores. Ainda neste sentido, o uso das tecnologias que já temos disponíveis de uma forma mais eficiente também pode trazer benefícios em curto prazo e de forma acessível.

Um congresso interessante, sem dúvida, que deixa muitos caminhos e ideias para aprimoramento na busca de melhor compreender e tratar de forma mais efetiva estas doenças.

Dr. Marcus Magnus Sampaio CRM/GO 7378 RQE 2374/2375/2571

Dr. Marcus Magnus Sampaio CRM/GO 7378 RQE 2374/2375/2571

Especialista em Predisposição Hereditária ao Câncer pelo Einstein e Mestre em Biologia com ênfase em Genética Humana pela UFG. Completou Residência Médica em Hematologia e Oncologia, além de Clínica Médica. Possui títulos de especialista em Clínica Médica, Hematologia, Hemoterapia e Cancerologia. Membro Titular da SBOC, ABHH, ASCO, e ESMO, destaca-se na oncologia clínica, focando em tratamento e pesquisa do câncer.